— Quanto tá aquela pulseirinha ali?
— 20 dólares.
— O quê? Esse é o seu melhor preço?
— Faço por 18 dólares.
— Ainda está caro.
Fui embora e imaginei que fosse me arrepender de não tem comprado a tal da pulseira.
Eu sempre me arrependo, porque, na verdade, não sou de comprar quase nada em viagens. Eu aprecio, às vezes fotografo para guardar de recordação e esqueço.
Mas aquela pulseira — que infelizmente não fotografei — era diferente. Ela me levaria a um lugar de reflexão e me faria lembrar de diminuir o ritmo.
Ao menos a feirinha de artesanato eu registrei.
Pole Pole
Isso era o que estava escrito na pulseira.
Uma expressão do idioma swahili, falado na Tanzânia e significa “devagar”.
Trazendo para a nossa cultura seria o tal do “devagar, devagarinho” do Martinho da Vila.
Talvez seja uma das expressões mais usadas por lá, afinal, o ritmo deles é diferente de qualquer outro no mundo. Pelo menos comparando aos 30 países que visitei.
Para não ter pequenos surtos no país alheio, precisei de um mantra durante os oito dias de férias em Dar Es Salaam e Zanzibar, na Tanzânia:
“Não se ocupe o tempo todo. Pausar pode ser a sua melhor ocupação hoje.”
E cada vez que eu percebia que o ritmo deles me incomodava, porque sim, incomodava muito e olha que já passei da fase de ser uma pessoa acelerada, mas lá é outro nível — eu lembrava o tal do mantra.
De uma forma geral, eles fazem as coisas com calma. Muita calma. Do restaurante aos museus, passando pela barraca de água de coco na praia.
O bom é que você pode tirar proveito disso para tirar fotos sem se preocupar com tempo. Parar e almoçar curtindo uma excelente seleção musical dos anos 80 e visitar um museu ao ar livre com práticas ancestrais, dançar com eles por cinco dólares, sorrir e conversar como se não houvesse amanhã, porque eles nem estão preocupados com isso, só com o momento presente mesmo.
Pode acontecer da sua piña colada demorar uns quarenta minutos para chegar. Mas quem está com pressa mesmo?
Estava de férias, e seria de bom tom descansar, abraçar uma árvore - um Baobá, sei lá. Pole Pole.
No Ocidente é fácil associarmos tempo com dinheiro, com pressa, com oportunidade de produzir algo.
É como um ciclo ad infinitum de “ocupar o tempo — o tempo todo — eu sou útil — eu dou resultados — estou “na pegada” — cadê meu reconhecimento”.
Parece que nossas atividades estão cheias de vida, mas às vezes, estão cheias de morte. Vivemos o luto de quem matou o tempo.
Eu repensei o tempo naquela ilha. Aliás, o tempo passa diferente por lá.
Refleti sobre as atividades que cabem num dia com vinte e quatro horas.
Tomei banho de mar. Vi esse mesmo mar mudar de cor.
Na parte da ilha em que eu estava, ele mudava do verde claro pro azul e então para o Turquesa. Nunca tinha visto isso. Mudou ali, na minha frente.
Isso só aconteceu porque eu estava com tempo para prestar atenção.
No meu último dia em Zanzibar eles estavam comemorando o Eid Al Adha, um feriado importante para o Islam, a religião predominante na região. O motorista que iria me buscar, primeiro foi para seu momento de devoção e prática — o que é sagrado para um muçulmano. O que já estava num ritmo lento, foi potencializado pela celebração religiosa.
Por morar num país árabe, ao menos já estava acostumada com essa parte.
E finalmente, antes de ir embora, caminhávamos pela rua estreita do Centro Histórico, a caminho do Museu do Fred Mercury. Vi lá no alto uma placa e, dessa vez fotografei. Dizia:
"Slow Down, Pole Pole".
Uma câmera logo acima me filmava dizendo "estamos de olho!"
Uma viagem vai muito além de visitar os pontos turísticos.
Se prestarmos atenção aos sinais e sussurros que a vida nos traz, conseguiremos entender a singela mensagem trazida por coisas e pessoas que atravessam nosso caminho.
Quase um ano depois da aventura cheia daquela calma desafiadora, eu continuo refletindo sobre meu ritmo e como posso aplicar na minha vida a mensagem da pulseira falante: Pole Pole.
Ela ainda ecoa.
Nossa estava precisando muito desse tok gratidão amada
Eu sou lenta, talvez me adaptasse ao ritmo deles. Hahaha