#095 Minhas Raízes me dão Asas!
Parafraseei um slogan de 1994 para falar de ancestralidade, volta para casa e superação.
🎥 O dia em que me senti hollywoodiana
Cheguei um pouco atrasada naquele compromisso.
Atrasada, não! Adotei o fuso horário queniano, onde o Hakuna Matata1 é levado a sério e o Pole Pole (devagar, devagarinho) define o ritmo local.
Ao longo do percurso entre o centro de Nakuru e a zona rural, onde eu iria, as vacas atravessam a rua calmamente. O carro para, deixa-as passar, tudo sem a pressa ocidental.
Quando a van estacionou no terreno da escola, o cinegrafista e o fotógrafo dispararam para registrar o momento em que eu descia do carro e cumprimentava as pessoas.
Lá estavam me aguardando: professores, o diretor da escola, o coordenador, todos em pleno recesso, reunidos para um dia especial com os adolescentes do ensino médio.
Não pude deixar de rir por dentro, imaginando o que eles estavam pensando.
Estariam esperando a Oprah ou a Viola Davis?
Coordenadas
Por onde ando nesse mundão?
📍23°57'55.8"S 46°20'56.2"W
Escrevo da terra de Charlie Brown Jr.2, na cidade que cresci e escolhi como lar.
Lugar onde os prédios à beira-mar têm seu próprio charme, se posicionam em itálico, meio inclinados para um lado ou para o outro. O jardim da orla é tão extenso que entrou para o Guinness Book.
O futebol pulsa no coração dos moradores e a famosa Vila Belmiro como um templo sagrado do esporte. Aqui, os versos de "Proibida pra Mim" ecoam nas ondas do mar, e "Meu escritório é na praia" reflete um tempo muito anterior ao boom de nômades digitais.
🎧 Zóio de Lula
Para ouvir enquanto faz sua leitura
A música "Zóio de Lula" foi lançada em 1999 no álbum "Preço Curto, Prazo Longo" e se tornou um dos maiores sucessos da banda Charlie Brown Jr. Eu não me canso de postar stories com essa música quando estou trabalhando em cidades praianas.
Meu escritório é na praia, eu tô sempre na área
Mas eu não sou da tua laia, não
Raízes de Identidade
Carrego comigo a ancestralidade afro-indígena, que me oferece não apenas um senso de identidade, mas também a força e a coragem que me guiam. Descobrir que tenho 12,9% de DNA queniano foi como encontrar uma peça essencial no quebra-cabeça da minha história, revelando uma conexão profunda que sempre esteve ali, latente, esperando o momento certo para se manifestar.
Quando visitei o Quênia, senti como se estivesse voltando para casa, conectando-me com uma parte de mim que transcende tempo e espaço.
Em 2022, realizei o sonho de visitar 25 países, e o Quênia foi o vigésimo quinto: um marco significativo na minha jornada de autodescoberta.
Pisar naquele solo, inicialmente com a intenção de fazer um safári, foi muito mais do que uma viagem turística. Foi uma celebração das minhas raízes e das asas que elas me deram, permitindo voos mais altos e para mais longe, levando comigo a essência de quem sou e de onde venho.
Andréa, já que você vai para Nairobi, que tal aproveitar a oportunidade para conhecer Nakuru, no Rift Valley? Lá você pode conhecer o Professor Peter Tabichi, vencedor do Prêmio Nobel de Educação3. A viagem de Nairobi a Nakuru dura em média 3 horas de carro, o que acha da ideia?
E assim, Verônika me convenceria a dar uma esticadinha até o local mais próximo da Linha do Equador, na terra dos meus ancestrais.
Raízes de Conexão
Conheci Verônika pelo Facebook, de um jeito simples e inesperado: ela me ofereceu um Dorflex. Esse pequeno gesto foi o início de uma grande amizade. Logo estávamos tomando café juntas, promovendo outros encontros. Foi através dela que entrei no Clube do Livro de Dubai.
É dessas amigas loucas que nos incentivam a fazer tudo e a dar boas risadas. Ela é como um elo, unindo pessoas de forma singular.
Não só me abriu portas para novas experiências em Dubai, como também foi essencial na minha jornada ao Quênia, lugar que ela havia visitado meses antes. Trouxe alguns repelentes para eu levar para a viagem, recomendou guias turísticos para Nairobi, motorista para Nakuru, me apresentou e me recomendou a Peter Tabichi, deu dicas valiosas sobre os lugares imperdíveis que eu deveria visitar.
Além disso, organizou uma campanha para arrecadar bicicletas para os alunos da escola de Peter, ajudando a melhorar a vida de muitos jovens que precisavam caminhar mais de 8 km por dia para chegar à escola. Sua amizade e apoio tornaram cada momento da minha viagem mais especial e significativo.
E para a sugestão de ir até Nakuru, eu disse:
Simmmm !
Raízes de Inspiração
Nos campos onde o vento sussurra segredos ancestrais, vive um homem cuja paixão pela educação ilumina os corações dos jovens: Peter Tabichi, um professor de ciências e matemática na Keriko Secondary School, Nakuru, Quênia.
Em 2019, o mundo parou para aplaudir enquanto ele era coroado com o prestigioso Global Teacher Prize, um reconhecimento merecido por seu compromisso inabalável de inspirar a próxima geração.
Mas a jornada de Tabichi não termina na sala de aula! Ele é um herói em uma missão, doando não apenas seu conhecimento, mas também 80% de seu salário para ajudar os alunos mais necessitados. Sua generosidade é como um rio que flui por terras áridas, alimentando a esperança e a oportunidade onde antes só havia desespero. É incrível testemunhar o impacto transformador de um coração dedicado à educação!
Conheci Peter Tabichi em um dia que prometia mais do que uma simples viagem. Em Nairobi, nossa jornada começou com um encontro no hotel onde ele estava hospedado. Entre goles de café e trocas de e-mails no saguão, o ritmo Pole Pole nos levou de maneira tranquila em direção à linha do Equador. À medida que seguíamos para Nakuru, a três horas dali, a paisagem nos oferecia histórias e lendas do Quênia, recheadas pelas narrativas de Peter sobre o Rift Valley4.
Cada parada pelo caminho revelava um novo encanto. No lago Nakuru, esperávamos encontrar uma sinfonia de flamingos em migração, mas, ao invés disso, vimos apenas um solitário fugitivo do frio. As crateras não muito longe dali, marcas do passado geológico, nos observavam em silêncio, enquanto as cavernas sussurravam segredos antigos.
Um momento peculiar foi nosso encontro com um Maasai5. Ele vivia em uma das cavernas, e sua figura contrastava com o brilho do celular em suas mãos. A ironia daquela cena trouxe risos leves ao dia, uma lembrança de como o antigo e o moderno coexistem de forma inesperada.
O artesão local me deu uma verdadeira aula sobre as crateras e o vale. Dele, levei mais do que conhecimento — um maço de erva-cidreira e o aroma me acompanhou de volta a Nairobi.
Além dos lugares e das pessoas que tive o prazer de conhecer, os momentos com Peter tornaram essa jornada singular feito um baobá que resiste ao tempo. Sua humildade e vasto conhecimento foram um presente, e cada conversa, uma troca rica de ideias e visões para o futuro.
Esse encontro, um privilégio imenso, vou guardar com o carinho das mais preciosas memórias que tenho do Quênia.
Asas de Coragem
Chegar a Nakuru foi como entrar em um novo capítulo da minha jornada. Após passar um tempo enriquecedor com Peter Tabichi, tive a honra de encontrar aqueles adolescentes na Keriko Secondary School. Após o momento hollywoodiano e já habituada com as filmagens e fotos, era hora de entregar as bicicletas, participar de um bate-papo animado, e dançar com eles como se nos conhecêssemos há tempos.
Visitar a plantação de milho e conhecer a escola toda, incluindo a sala de computadores, foi incrível. Saber que esses recursos vieram do prêmio Nobel de Educação que Peter ganhou foi inspirador.
Contei sobre meus ancestrais quenianos e compartilhei o desejo que eu tinha de palestrar em inglês, algo que me desafiava por conta da minha insegurança com o idioma. Perguntei se eles estavam conseguindo me entender, e a resposta positiva deles foi um alívio e uma motivação enorme para mim.
No final, pedi que compartilhassem como se sentiram. Ver tantos deles emocionados, alguns até chorando, foi tocante. Os professores e o diretor me agradeceram calorosamente, e depois Peter me enviou uma mensagem dizendo que o encontro tinha tocado muitos corações.
Ela fala, emocionada, que já tinha desistido de sonhar e como estava sem esperanças.
Para encerrar esse dia especial, fui convidada a plantar uma árvore no quintal da escola; todas as pessoas que plantam uma árvore ali são lembradas para sempre, segundo eles. Ela representa minha raiz queniana, que me deu asas de coragem para chegar até aqui e ir além.
O tempo que passei em Nakuru foi enriquecedor, um dos momentos mais especiais da jornada no continente de onde vieram meus ancestrais.
📸 Todas as passagens desse post têm fotos correspondentes. Caso você tenha curiosidade é só me pedir o link.
O dia que plantei uma árvore no Quênia
“Sem problemas, viva sem preocupações!” Essa tradução livre captura a essência da filosofia Swahili por trás da frase, que é de relaxamento, foco no presente. Algo como: "Sem estresse, aproveite o momento!"
Banda brasileira de rock (1992-2013)
Global Teacher Prize: reconhecido como o “Nobel da Educação”
Uma vasta fenda tectônica que se estende do Leste da África até o Oriente Médio, é conhecido por suas paisagens espetaculares, biodiversidade rica e significância arqueológica, sendo o berço de muitos dos primeiros ancestrais humanos
Grupo étnico nômade e pastoril, famoso por sua cultura, trajes coloridos e habilidades de pastoreio, que habita principalmente as regiões de savana no Quênia e na Tanzânia.
"Quando visitei o Quênia, senti como se estivesse voltando para casa, conectando-me com uma parte de mim que transcende tempo e espaço." Dizem que nossas células têm memória, né?
E, ai, caíram uns ciscos aqui com o vídeo da menina que renovou as esperanças. Que você siga renovando esperanças por esse mundão pequeno.
Que maneiro!! A emoção da menina que diz ter desistido de sonhar aponta para o óbvio, a felicidade está em coisas simples (o óbvio precisa ser dito, é preventivo) para além das bicicletas, percebi que a emoção ali estava no acolhimento recebido.