#023 Acácias e Baobás - Ancestralidade e Pertencimento
A importância dos símbolos para uma cultura e minha reconexão durante as expedições
Os símbolos são as riquezas de uma cultura, geralmente elementos carregados de poder. Eles se comunicam com o povo sem palavras, apenas conectando o que faz sentido.
Em 2014, quando pisei em Dakar, no Senegal, dei de cara com vários Baobás. Nunca tinha visto uma árvore daquela. Não sei o que senti. Estava tão mexida com o que havia acontecido dias antes numa expedição na Nigéria, que "deixei passar".
Quando voltei ao Brasil, para minha rotina que, na época, incluía trabalhar no Serviço Público da minha cidade, uma assistente social abriu um livro de tecido com um Baobá desenhado e me contou uma história que, teoricamente, seria para crianças.
Falando em histórias para crianças, tenho uma amiga escritora que diz "livros para a infância" e não apenas para crianças.
Naquele momento, minha infância veio à tona. Não porque eu conhecesse a árvore ou a história que ela estava contando, mas algo dentro de mim se conectou, ou melhor, se reconectou com aquele cenário. Era a história dos meus ancestrais. Fui remetida ao Senegal. Minha infância foi trazida àquele momento para ser contemplada outra vez.
Demorei oito longos anos para promover o reencontro entre o Baobá e a minha criança interior.
Desta vez na Tanzânia, na ambientação de uma vila ancestral.
Eu perguntei várias vezes pro guia se eu teria a oportunidade de ver um Baobá e ele me garantiu:
— Sim, temos vários, não se preocupe.
No museu, eu perguntei:
— Uau que árvore grande! Esse é o Baobá?
— Não, essa é uma outra árvore. Eu vou te levar ao lugar onde elas estão.
Quando chegamos na vila, eu reconheci e pedi inúmeras fotos.
Abracei a árvore, como se tivesse matando as saudades e me reconectando com ela. Não, não era como se estivesse, eu de fato, estava.
O Baobá é a árvore símbolo da África. Ela é sagrada e tem uma capacidade de armazenamento de água dentro do tronco. Imagina que maravilha para o povo das regiões mais áridas do Continente!
Ao Baobá também é atribuída a sabedoria e coragem para atravessar o tempo - do grego, sophia1 e andrea2 transpassando o tempo e fazendo valer seu símbolo de resistência. Eis o povo africano muito bem representado num Baobá.
Plantar árvores é um dos passos para promover o resgate ancestral. E tive minha oportunidade, quase dez anos depois de conhecer a árvore símbolo da África, de plantar uma no Kenya. A cerimônia do plantio teve discurso:
— Por que plantar uma árvore? — o diretor da escola onde fiz voluntariado perguntou para os adolescentes, que responderam:
— Um ritual de honra, pela importância que ela teve em nossa comunidade e enquanto a árvore estiver aqui, ela sempre será lembrada.
Esse foi o ponto alto da minha viagem ao Kenya — plantar uma árvore na terra dos meus antepassados. Apesar de não saber muito sobre a origem dos meus ancestrais, meu DNA mostra uma grande concentração na África Oriental — Kenya e Somália — o que me trouxe dupla honra.
Além de plantar uma árvore no Continente, subi em Acácias. Comida fresca de girafa. No Kenya e na Tanzânia encontramos muitas delas pelo caminho. São lindas, adornando a paisagem como uma pintura.
Símbolo, em grego, remete à unidade, “associar uma coisa com a outra”. Com esse significado é evidente que não precisamos pensar muito sobre o que representam as árvores para o povo africano. O meu povo. Raízes de resistência.
Do grego antigo (σοφία): significa sabedoria.
Do grego (ἀνδρεία): significa coragem.
Eu conheci o baobá por conta do Pequeno Príncipe e sempre quis ver um de pertinho. Que história linda a sua <3