#024 Enquanto eu viajo...
Resgato um texto que postei nas redes sociais, celebrando minha ancestralidade
Aproveitando que faz nove anos que pisei meus pés em solo africano, exatamente no dia 18 de julho, dia de Mandela, e totalmente sem tempo para escrever um texto novo por aqui, te convido para essa leitura remasterizada e uma reflexão.
A África me chamou quando eu tinha 12 anos. O som dos meus ancestrais, através da música fez meus olhos contemplarem o Continente. Foi naquela direção que o mundo olhou em 1985, quando Quincy Jones produziu a música We Are The World, escrita por Lionel Richie e pelo meu ídolo de infância e adolescência, Michael Jackson.
Não sou africana. Sou sul americana. Brasileira. Mas minhas raízes estão cravadas lá.
Cresci sem referências da minha negritude, entre peles claras e cabelos lisos ou encaracolados. Não se falava de preto, de África. Não ouvíamos e muito menos contávamos histórias que fizessem alguma menção às minhas origens.
Levei muito tempo para entender todo o processo de resgate dessa identidade. Havia uma sede pela terra dos meus ancestrais, mas demorei quase 30 anos para atender a esse chamado. Quando você é diferente das pessoas ao seu redor, você pensa que é como elas e pensa como elas.
Depois de 45 anos de mente colonizada, me tornei preta. Foi uma Jornada. Desde a transição capilar até o exame de DNA.
Enquanto eu descobria África, também me descobria. Caminhava por solo Europeu, entendia a tentativa de dominação e apagamento, ressignificava conceitos e fazia uma releitura da história - aquela que nunca é contada.
Percorri os quatro cantos da África, que não é um país, mas um continente. Parece tão óbvio, mas acredite, muita gente não faz ideia disso.
Subi da África do Sul - terra de Soweto, Stevie Biko e Ubuntu - até o Marrocos, no norte com seu chá de hortelã e os óleos. Passei pela África Ocidental, terra do Jollof, da banana da terra, cassava e do fufu. Caminhei pelos Safaris do Leste com os Maasais - os guardiões das Savanas - dancei com tribos na Tanzânia e visitei as ilhas de Zanzibar, chorando na Ilha da Prisão.
Choro por dentro quando me lembro que ainda precisamos lutar para que nossos filhos não sejam chamados de macacos na Espanha, assassinados a céu aberto no Rio de Janeiro, espancados e mortos nos Estados Unidos e invisibilizados no resto do mundo.
Celebrar o Dia da África1 pra mim, é honrar meus ancestrais, a realeza africana e a resistência.
Gostaria de comemorar…
Mas ainda sou vigiada em lojas, ouço que "gosto não se discute" quando os homens pretos rejeitam mulheres pretas e estão longe de entender que gosto é construção social.
Gostaria de comemorar…
Mas ainda sou acusada de mimimi e convidada a repensar minha postura "afinal de contas, não foi bem assim..."
Gostaria de comemorar…
Mas ainda me dizem que não sou preta e sim "moreninha", ou "mulata" achando que ser preta é uma ofensa, um defeito.
Enquanto me descubro, escolho estar entre os meus iguais. Assisto às séries que eles produzem, livros que eles escrevem, músicas que eles compõem. Viajo a turismo e faço voluntariado no meio deles. Danço como eles e aprendo seus idiomas.
Negritude não é cor, é honra; por essa razão eu te honro Mama África.
Como sugestão, deixo alguns títulos e materiais que valem a pena serem ouvidos, lidos, assistidos e compartilhados. Há muito o que se explorar nesse universo, aqui, só algumas sugestões para que a gente saia do eixo eurocêntrico-patriarcal.
Netflix
African Queens
Podcasts
Mano a Mano
História Preta - Carolina Maria de Jesus (10 episódios)
Mamilos - Comida Diaspórica, com Patty Durães
TedTalks
Becoming Free - Sara King
Cultivating unconditional self-worth - Adia Gooden
A mulata que nunca chegou - Nataly Neri
Livros
Em Busca de Mim - Viola Davis
O perigo de uma história única - Chimamanda Ngozi Adichie
O pacto da Branquitude - Cida Bento
Instagram
Bárbara Carine - uma_intelectual_diferentona
Pétala & Isa Souza - Afrofuturas
Substack
Rachel Quintiliano - Pensamento antirracista, literatura e outras coisas
Playlist (On repeat, Spotify)
Sittin’ On top of the world - Burna Boy
Into the Future - Stonebwoy
People - Libianca
Rush - Ayra Starr
My sound - Stonebwoy ft. Shaggy
Over Dem - Davido
Dia da África é celebrado em 25 de maio, quando esse texto um pouquinho mais enxuto foi escrito.